Quando lavas o rosto ou tomas água, que sentes? Quando o vento libera teus cabelos e move as árvores, que sentes? Quando falta luz e acendes uma vela ou uma fogueira, que sentes? Quando plantas uma semente na argilosa e carnal terrinha, que sentes? É a proximidade, a luz líquida, a claridade da negra terra, a beleza do vento e seu movimento, são íntimos seres que nos mostram esta presença que somos, este ser que se desenvolve de instante a instante como um caracol de ametista e fulgor consciente…
A vida nasceu da intimidade. Esta totalidade clandestina, de onde viemos e para onde vamos, não faz nada para ser íntima. Simplesmente assim é! Emaranha-se um instante em outro, não são prisioneiros, porém estão tão ligados que se experimentam como continuidade. Abandonam-se por eles mesmos a esta intimidade que chamamos Vida e tudo nos une à totalidade. Que bela rede! Abre tuas pálpebras ao não nascido, íntimo aparece como um alento. Surpreendente! Neste vasto espaço da consciência, unida a tudo, o monte, as nuvens, os pensamentos, tudo participa desta familiaridade, tão simples… Oh tão simples! Tomemos o pulso deste instante, é tão preciso, chega no momento justo, parece descender à íntima luxúria de sentir o tempo passar, alento após alento. É assim como ocorre, adentro de tudo… tocando tudo, íntima a vida se adere e lhe damos nomes, a separamos, porém ainda assim ela não perde suas qualidades de original e íntima. Reagrupa ao alento todo este sutil momento, em que tudo parece existir separado, porém vemos com o olho da consciência: tudo é uno e a mesma substância que não desiste. A desolação da separação voou, a raptou algum instante e a dissolveu na inexistência. Agora, aqui… nos confou um testamento de oceano, um diamante de água, para os achegados da sede de unidade. Que simples e extraordinário! Vamos cruzando as margens do instante, e íntimo chega este outro, de igual qualidade de irmão, de amigo, de tão meu que parece ser eu mesmo, não mais a imagem, mas esta realidade que, em vai e vem, respira... toca fundo a Santa Terra, me cobre de lentos alentos. Que íntimo é viver! Translúcida carícia da vida, suspensa em instantes ocorre este sensível testemunhar. Terminou a anestesia da distância. A experiência dói, ri, caminha na totalidade deste instante, separada de nada… viaja para nada, desfrutando e aceitando o que chega. Me permite viver os momentos de ausência, de carência, estes instantes de desolação não estão só quando os aceito e os vivo inteiros. Assim, ver o não visto nos transforma em íntimos do Ser, a totalidade canta sua canção que não se cansa e nos tira do desterro… sim, de ser longe da terra… íntimo pó de vida que canta e sonha, avançamos sem mover-nos, como colibris de céu.
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